Roda da Vida




   Era uma barriga mirrada e mal-assistida pelo corpo magro e estreito de uma mãe sem nome, sem religião, sem nada.
   Não era apenas uma, eram milhares de mulheres-mães, brancas, negras, pardas, amarelas espalhadas pelo mundo. E aqui não cabe perguntar quem veio primeiro: a criadora ou a criação ¿Primeiro e antes de tudo o nada existia muito bem casado com o infinito. Mas, cansado de sua inexistência, o universo quis nascer. Foi um parto explosivo e natural.     Depois fora se transformando em planetas, estrelas, constelações e sistemas. È essa história que as mulheres-mães contam para seus filhos depois que nascem, e para as outras perguntar a resposta é sempre a mesma : mistério; é do mistério que é formada a mulher-mãe.
  Desses planetas, a menina Terra abrigou a humanidade, e foi uma ótima hospedeira sem perguntar de onde vínhamos ou quanto tempo íamos ficar.
  Cada mãe, ao seu tempo, sofreu na hora do doloroso parto. Alguns filhos não sobreviveram, uns morreram na hora ou foram cedo, por causa das doenças e guerras. Os  que ficaram criaram relações, tiveram outros filhos, descobriram sentimento e sentidos das cócegas dos pés até o aperto no coração, da risada prazerosa às lágrimas salgadas.
  Esses meninos e meninas deram seus primeiros passos na Terra, brincaram com as presas e pedras e descansavam sobre qualquer sombra. Alguns problemas começaram a aparecer, a comida era pouca e tinham medo de morrer. Pararam de usa tanto a força da mão e começaram apensar, logo saberiam falar. E criaram-se palavras, frases, nomes, para o que existia e o que não existia.
  Cresceram as meninas e meninos e foram se transformando, sentiam dor que não sabiam explicar, não era dor de luto nem de fome. Era dor que permanecia a atormentar. Descobriam que podiam ser felizes sem nada e tristes com tudo. Inventara  línguas, dialetos. Expressavam todas suas duvidas e sentimentos confusos em livros, desenhos e músicas. Sentiam-se melhor com as pessoas que amavam. Amavam. Então, perceberam que o amor existia, mas esse já existia desde as mulheres-mães.
  Mas, logo isso passou e tudo mudou.  Eles cresceram e já não se satisfaziam com o que antes tinham conquistado, Da dor e do amor parece que eles esqueceram. Formaram-se tribos, chefes e fizeram inimigos, Na terra não se plantava mais, produzia-se. Como máquinas coexistiam em nações  e fronteira imaginárias. Separam-se em hierarquias de um sistema de massa. Não perceberam que não eram máquinas, que não podiam viver com tais. Quem vem primeiro o criador ou a criatura¿
   Esqueceram que eram hóspedes da Terra e quebraram sua janelas, acimentaram o jardim, o pomar ficou infértil, as águas poluídas. Deixaram a louça sem lavar e queimaram o s álbuns de fotografia, queimaram da memória a sua história e instalaram máquinas de produzir dinheiro, tendências, relacionamentos descartáveis, filosofias baratas e religiões descrentes.
   Eram infelizes estrangeiros no próprio mundo. Tomavam remédio para dormir, para sorrir, para amar. E nunca tinham sido tão saudáveis.
  A janela sempre está fechada, por ela não passam balas, nem bombas atômicas, nem o sol. E os filhos choraram em soluços para encher os pulmões de vida. A cada dia que alguém morria sem  esperança, mais uma esperança nascia. E, assim movia-se a roda da vida.

                                               Ana Júlia Carvalheiro

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