Eu falo sua lingua
Gente estranha
Que fala pelos cutuvelos
E roe os dedos
Eu jogo quebra-medo
Eu faço trava-lingua
E você me ensina a beijar sem respirar
De baixo d´lua da rua da sua
lingua.
Você ouve minha trova
Você é meio medieval.
Eu sou sua suserana
E você meu cavalo de pau. Ana Júlia Carvalheiro
Tem a sua cara
mas não seu cheiro
Tem jeito de ser
Mas não existe
Tem força
Mas não tem coragem
Tem chance de acontecer
Mas já passou
Tem tempo para pensar
Mas sofre
Mas cheira a alfazema
E tem cara de bolacha
Mas não o gosto
Persiste
Mas não insiste
Tem poesias guardadas
mas não as mostra
Mas não entende
nada de política
mas sente
que tem que lutar pela bandeira
do nada.
Afoga toda a mágoa
passada
com pasta d´água
Sente saudade da infância
não cresce
Acrescenta mais açucar no café,
Não adianta.
Adianta o relógio meia-hora
Mas ela não chega
Nunca,
Depois da meia hora
Existe mais o infinito
E esse tem sua cara. Ana Júlia
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